Antide Janvier nasceu a 1º. de
Julho de 1751 em Brive, atualmente uma aldeia chamada Lavans-lès-Saint-Claude, próximo a Saint-Claude, na região do Jura suíço. Seu pai, Claude Étienne, um trabalhador agrícola, torna-se mestre relojoeiro autodidata e, percebendo cedo a aptidão de Janvier para a arte, dá-lhe em tenra idade as primeiras noções sobre relojoaria. A sua formação acadêmica será completada pelo abade Tournier de Saint-Claude, que chama a si a educação do jovem Janvier. Sobre o seu professor, o aluno falará sempre com admiração designando-o sempre de “o Mestre”. Este último reconhecerá no adolescente de 13 anos os sinais de uma inteligência notável e precoce, formando-o nas disciplinas que ele próprio amava: o latim, o grego, a matemática e a astronomia, pela qual nutria uma verdadeira paixão.
Em 1766, com apenas 15 anos, Antide Janvier empreende a construção de uma “esfera móvel”, tarefa que lhe toma entre 15 a 18 meses de trabalho. Em 1768, após a sua conclusão, tem a audácia de apresentá-la à Academia das Ciências e Belas Artes de Besançon, instituída por Luis XV em 1752. Os sábios desta instituição consagram de imediato o jovem desconhecido de Saint-Claude, deixando-se seduzir pela sua obra. Cobrem-no de elogios e presenteiam-no no palácio de Granvelle com um certificado datado de 24 de Maio de 1768: “O Sr. Antide Janvier de Saint-Claude, apresentou a esta Academia uma esfera na qual executou por meio de movimentos um sistema astronômico, e que esta assembléia acredita que não são demasiados os elogios e encorajamentos a um jovem de 17 anos que a indústria honrará como mecânico consagrado, e ao qual acredita ser um ato de justiça a atribuição do presente diploma”.
Após este importante reconhecimento, Janvier entra ao serviço do relojoeiro M. Devanne como aprendiz, de maneira a aperfeiçoar os seus conhecimentos na arte. Em 1770, o município de Besançon, cuja atenção fora atraída pelo êxito do trabalho anterior, encomenda a Janvier o trabalho de restauro do relógio de mesa do Cardeal de Granvelle, peça fabricada em Augsburg em 1564, tal como comprovam diversas cartas de Fugger, negociante desta vila ao serviço do Cardeal, e que serviu de intermediário na aquisição desta peça.
A construção de diversos planetários por Antide Janvier valem-lhe a honra de ser apresentado ao rei Luis XV. Após uma curta permanência em Verdun, aonde viria a se casar, instala-se em Versalhes a pedido do Rei Luis XVI, e posteriormente no Louvre na qualidade de relojoeiro do rei. Manterá esta relação com o rei durante bastante tempo, mesmo após a revolução, ato que lhe valerá diversos inimigos e uma temporada na prisão. Os seus pêndulos são todos notáveis, a sua execução sempre perfeita e as suas complicações por vezes difíceis de entender. Janvier construiu relógios com indicação de marés, diversos planetários e extraordinários e engenhosos pêndulos, assim como complicações astronômicas.
Ao mesmo tempo em que se iniciavam os excessos da Revolução Francesa, Janvier passa por um longo período de miséria e provação. A sua mulher adoece gravemente e os seus meios de subsistência tornam-se precários. Habita nesta altura o nº. 152 da Rue Poissonnière, imóvel que ele próprio descreve com sendo insalubre e privado de sol. Versalhes é agora apenas uma recordação. A morte da sua companheira, em 1792, e que zelava pela ordem da casa e pela gestão dos escassos recursos financeiros da família, precipitam-no em sérias dificuldades. Retorna por algum tempo ao Jura, a Morez, como comissário de saúde pública, encarregado de uma manufatura de armas na qual emprega diversos relojoeiros.
De volta a Paris, a sua paixão pela arte relojoeira fazem-no esquecer e negligenciar as realidades da vida corrente no que diz respeito à sua saúde financeira. Para poder continuar a produzir os seus pêndulos, Janvier tinha de pagar antecipadamente ao fundidor, ao dourador, ao esmaltador, ao cinzelador, e apenas trabalhava com os melhores artesãos da época. Em conseqüência, será obrigado a vender os seus livros, os seus desenhos, móveis e máquinas, assim como os seus pêndulos a Abraham Luis Breguet, aos quais este aplicará o seu nome. O relojoeiro belga Zacharie Raingo irá utilizar os movimentos assinados Janvier na construção dos seus próprios planetários.
Em 1826, o restauro torna-se a sua atividade principal e valem-lhe a magra soma de 75 cêntimos por dia. Antide Janvier tem agora 75 anos. Continua, no entanto, a fabricar pêndulos, embora mais comuns, em conjunto com alguns artesãos. Os seus últimos anos são passados numa completa miséria, no nº. 26 da Rua Saint-André-des-Arts. Conserva, no entanto, segundo Chénier, “o seu vigor de espírito, a sua memória prodigiosa e a destreza dos seus membros”. Já no final da sua longa vida, cai doente e refugia-se junto de um amigo. É finalmente hospitalizado em Cochin onde morre a 23 de Setembro de 1835, às 8 horas da manhã. Tinha 84 anos e chegou a resumir a sua vida da seguinte forma: “Ingressei com a idade de 15 anos numa carreira estéril. Após ter-me sacrificado à instrução, não encontrei mais do que um pouco de glória, o abandono e o esquecimento”. No entanto, o seu funeral em Montparnasse foi seguido por numerosos amigos e artistas, tendo havido inclusive uma coleta nacional para lhe erguer um monumento. Um dos mais notáveis relojoeiros do seu tempo obtinha assim finalmente a glória merecida.
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